Algum dia há-de ser um novo dia!

Se realmente o tempo se renova…
Sepultado nesta cova de rotina,
a ver o sol pousar sobre as colinas
em frente,
em vez de me entregar
ao sono paciente de morrer,
ponho-me a futurar o amanhecer.

E com toda a inquieta
seriedade sacra de um poeta
que descortina
a universal e própria salvação,
vejo na imprecisão
que a próxima alvorada
– ou ela, ou outra, ou outra, ou outra ainda –
dará por finda esta luz monótona e cansada.

Miguel Torga (1907 – 1995)