Com que passos te procuro, Senhor,
Se em mim mal acerto e no que viso.
De que massas sou eu feito, Senhor,
E quão justas são aspirações que nutro,
Se erro ao arrepio de mim,
E o pão que amasso não leveda?
Em que pousada farei eu alto, Senhor,
Para que chegue a mesa grata,
Se leite fresco a meu hálito azeda,
E amargo se faz o límpido dos méis?
Pois se em mim são as trevas e os ermos,
Se confuso passeio os sentidos,
Quem, senão tu, Senhor, poderá guiar-me,
Poderá sanar as minhas angústias?
Com que vara medirei o que de ti me dista,
Se de mim reclamas que atinja sem calcular,
Que encontre sem hesitar ou descrer,
Que eu valha acima do que pergunto?
José Manuel Cruz
Paris, 22 novembro 2024