A ESPERANÇA é uma menina muito pequenina,
oculta nas brumas do coração.
Saltita por entre espinhos e nevoeiros,
onde o sol não chega inteiro,
mas onde o silêncio tem o sabor de Pai.
Saltita devagar,
como quem atravessa o deserto interior
com as mãos vazias e o olhar desperto.
Não traz mapas, nem promessas
– apenas a lembrança de uma luz antiga
que nunca viu,
mas reconhece como se fosse casa.
No seu saltitar há um segredo:
crescer é permanecer.
Entre a dor e o abandono,
ela escuta o murmúrio da Fonte
que canta no mais fundo da alma.
É um canto que não se ouve,
mas que tudo sustém.
A ESPERANÇA não grita — contempla.
É uma oração que não pede,
uma presença que não exige,
uma chama sem luz que ilumina.
No seu silêncio arde o fogo do Eterno,
um lume escondido que não se consome,
mas transforma.
Nos espinhos reconhece o caminho,
nos nevoeiros, a sombra do Mistério.
Sabe que a noite não é ausência,
mas véu da revelação.
E quando tudo parece morrer,
ela renasce
— porque a noite é o seu berço,
e o impossível, a sua seiva.
A ESPERANÇA é infância eterna do Espírito.
Cresce no meio da aridez,
bebe lágrimas e chama-lhes oração.
Entre quedas, levanta-se com ternura,
e cada vez que cai,
aproxima-se mais da claridade.
E quando enfim o nevoeiro se desfaz,
a menina não celebra.
Não se exalta
— apenas se inclina,
porque sabe:
não há chegada,
há só regresso.
Gota de alma que volta ao mar
de onde sempre veio,
a ESPERANÇA dissolve-se na luz,
e o seu nome, tão pequeno,
é o eco mais puro do divino.
(Verónica Parente – CHAM, 14 de outubro 2025)


