O CAMINHO É A ESPERANÇA

Trespassamos o tempo como nómadas peregrinos,
descalços,
deixando pegadas nas pedras do caminho,
mas sustentados por uma chama ardente invisível,
uma chama que persiste em não se extinguir.
A esperança não é uma ideia ou um sonho distante;
é o vigor que nos eleva
quando as noites escuras parecem eternas
e o silêncio pesa como um negro véu sobre a alma!
Como pássaros solitários caminhamos
rumo ao jubileu sem destino fixo,
mas vislumbrando horizontes
que nos contestam incessantemente.
Deus, o Omnipotente,
não nos espera num trono longínquo.
Ele está na queda dos nossos passos,
nas incertezas do caminho,
nos murmúrios quando caminhamos cegos na sombra,
e no brilho ténue em que permanecemos.
Sim, desejamos um mundo metamorfoseado,
mas o que fazemos deste que nos foi confiado?
Que marcas deixamos na paisagem
por onde passamos?
Que sementes lançamos
nos solos áridos do coração?
Não basta sonhar com a renovação.
É preciso agir, de mãos vazias
e com olhos que veem no agora,
na eternidade.
O jubileu é promessa,
mas também por nós é chamado.
Deus não busca espectadores,
mas artesãos que modelam o Reino,
pontes que unam margens,
luzes que dissipem trevas.

Esperar é mais do que aguardar.
É um ato de entrega,
um compromisso que se faz no afeto vivido,
no cuidado ao outro que se transforma em ação.
O futuro que desejamos não está distante;
rebenta nas preferências que fazemos,
nas pegadas que deixamos no presente.
E tu?
O que fazes para que a Esperança
seja mais do que uma centelha em ti?

Verónica Parente
Meadela, 20 novembro 2024