sinais

(Isto é sobre sinais de esperança)

A Igreja está cheia, ou de vazios, ou de velhos – matraqueiam-me. E até há quem se delicie em recontar as clareiras do Angelus do Papa, só por ele ser Francisco.

Ah, e o Papa é velho, e além de velho está doente e em risco de vida, que é coisa que acontece aos velhos; mas não só. E há quem cavalgue as vagas das fakenews e me atire que «ele até já morreu, só que não vos dizem!».

De facto, estamos velhos. Nas Missas que rezo estão as velhinhas de pontualidade costumeira. Se rezarmos uma via sacra, alguma outra mais também se achega; já se propomos um momento de formação, elas escapulem-se e ficam em casa a dormitar e a fazer croché.

Estamos uma Igreja de velhos, mas como os velhos só uma vez cessam de o ser, e cada vez mais tarde, ainda temos fregueses; não estão cá todos os que lá se achegaram e, suspeito que, de futuro, menos ainda virão.

Às vezes entram-me na igreja aos pares, de braço no braço; eu levanto o olhar e conto seis trôpegas pernas – duas de cada um, mais a bengala de cada qual! Mas quando lhes falo, eles sabem de que falo: o putativo pai do Menino é São José; o homem das dores é Jesus na paixão; o Pai das misericórdias é o Deus da consolação; o homem justo e paciente é Job; o profeta de fogo é Elias. E sorriem quando repito: temos Mãe!

É; eles sabem do que falo quando lhes falo das obras de misericórdia, dos mandamentos, das virtudes teologais ou das cardeais. Mas apesar disso eles vão indo, e eu irei depois que, como pastor, são eles que me levam.

Entretanto, também lhes digo que temos de entregar o testemunho, se não aos filhos, aos netos. E por isso também lhes recordo notas de esperança em que vou reparando: todos os dias, às sete da manhã, há um rapaz que me entra na igreja para rezar o terço; Miguel converteu-se depois de ler Yourcenar e Sartre, e agora lê O Castelo Interior e a Subida ao Monte Carmelo; Inês converteu-se aos vinte e quer dedicar a sua arte, como um Salmo, ao Senhor. O Pároco da Sé tem tantos catecúmenos adultos que, mais dia menos dia, suspende a catequese da infância para se lhes dedicar – ah, e tem um chinês que se quer baptizar, mas só tem o Espírito Santo (que não sabe mandarim) para lhe falar de Jesus e do seu Evangelho… E há jovens que se dedicam ao voluntariado, constroem casas para os pobres, visitam bairros que os políticos só conhecem em ano de eleições; e outros que são fiéis à memória de Jesus na Eucaristia, no canto litúrgico, nos retiros de silêncio…

Há sinais novos a despontar. Seremos uma Igreja diferente, já o amor será o mesmo. Haja esperança.

Frei João Costa – Mensageiro do Menino Jesus de Praga, nº253, p. 5