Próximos dos fracos como semeadores de esperança

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Pois bem, São Paulo recorda-nos que a perseverança e a consolação nos são transmitidas de modo especial pelas Escrituras (v. 4), ou seja, pela Bíblia. Com efeito, em primeiro lugar a Palavra de Deus leva-nos a dirigir o olhar para Jesus, a conhecê-lo melhor e a conformar-nos com Ele, a assemelhar-nos cada vez mais a Ele. Em segundo lugar, a Palavra revela-nos que o Senhor é verdadeiramente «o Deus da perseverança e da consolação» (v. 5), que permanece sempre fiel ao seu amor por nós, ou seja, que é perseverante no seu amor por nós, não se cansa de nos amar! É perseverante: ama-nos sempre! E cuida de nós, cobrindo as nossas feridas com a carícia da sua bondade e da sua misericórdia, isto é, consola-nos. Não se cansa de nos consolar.

É nesta perspectiva que se compreende também a afirmação inicial do Apóstolo: «Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas de quantos não o são, sem procurar o que nos é agradável» (v. 1). Esta expressão «nós, que somos fortes» poderia parecer presunçosa, contudo na lógica do Evangelho sabemos que não é assim mas, ao contrário, é exatamente o oposto, porque a nossa força não provém de nós mesmos, mas do Senhor. Quem experimenta na própria vida o amor fiel de Deus e a sua consolação é capaz, aliás, tem o dever de estar perto dos irmãos mais frágeis e de carregar as suas fragilidades. Se permanecermos próximos do Senhor, teremos a fortaleza para estar perto dos mais frágeis, dos mais necessitados, para os consolar e fortalecer. Este é o seu significado. E podemos fazer isto sem auto satisfação, mas sentindo-nos simplesmente como um «canal» que transmite os dons do Senhor; e assim tornamo-nos concretamente «semeadores» de esperança. É isto que o Senhor nos pede, com a fortaleza e a capacidade de consolar e de sermos semeadores de esperança. E hoje é necessário semear esperança, mas não é fácil…

O fruto deste estilo de vida não é uma comunidade em que alguns são de «série a», ou seja os fortes, e outros de «série b», isto é, os fracos. Ao contrário, como diz Paulo, o fruto consiste em «ter os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Jesus Cristo» (v. 5). A Palavra de Deus alimenta uma esperança que se traduz concretamente em partilha, em serviço recíproco. Pois até quem é «forte», mais cedo ou mais tarde experimenta a fragilidade e tem necessidade da consolação dos outros; e vice-versa, na debilidade podemos oferecer sempre um sorriso ou uma mão ao irmão em dificuldade. E é uma comunidade como esta que «glorifica a Deus com um só coração e uma só voz» (cf. v. 6). Mas tudo isto só é possível se no centro pusermos Cristo e a sua Palavra, porque Ele é o «forte», Ele é aquele que nos dá a força, a paciência, a esperança, a consolação. Ele é o «irmão forte» que cuida de cada um de nós: com efeito, todos nós temos necessidade de ser carregados às costas pelo Bom Pastor, de nos sentirmos contemplados pelo seu olhar terno e atencioso.

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Francisco, Audiência Geral · 22 de Março de 2017