Esperança

Nascemos para sermos bons. Ninguém nasce para ser mau ou proceder mal.

Se nascemos, é para que sejamos bons, felizes, façamos os outros felizes, os cumulemos de graça, enxuguemos lágrimas, ajudemos os trôpegos ou os carreguemos às costas.

É claro que somos limitados; e Deus sabe e respeita isso. Mas convirá lembrar que o nosso Deus elegeu e amou a nossa finitude humana para a esticar e estender infinitamente e a elevar até onde ela pertence, ao céu!

Somos uma obra maravilhosa, digna de céu. Seguir pelo caminho virtuoso, é darmos as mãos, porque agrada a Deus que ali entremos acompanhados, como em jubilosa peregrinação cruzando os umbrais do Santuário.

Ninguém nasce feito. Nem o Menino Jesus. Aliás, sempre mais m’aspanto e m’arregalo quando m’alembro de José de Nazaré alimpando o suor da testa com as costas da mão, e logo puxando o filho para o colo, recitarem, juntos, o Salmo 131: «Senhor, o meu coração não é orgulhoso».

E assim, por entre fitas de madeira, orações santas e aspirando o cabelo do Menino, lá ia José andando sob o olhar do Pai, enquanto Lhe educava o Filho.

Não há outro modo de crescer. Monda aqui, monda acolá; poda aqui e além. Semeando e colhendo, subindo a sopa do prato à boca e rapando da mesa as migalhas. Não há outro modo. Até que tombemos…

Há todo um tempo para o bibe, outro para comer na mesa dos crescidos, outro para levarmos os filhos pela mão, os ensinarmos a andar e a comer, a estudar e a levantar as mãozinhas ao céu, a benzer-se e a rezar.

Ninguém, pois, cresce sozinho. Crescemos todos com os desafios dos pares, lado a lado connosco; e vendo como fazem os crescidos, mormente os pais e avós. Eles nos botem as graças e as bênçãos, nos ensinem a voar, e ponham limites às diabruras e traquinices! Para crescer precisamos disso tudo, e das nossas virtudes que vamos adquirindo, desenvolvendo e aprimorando.

Tudo isto é bom, mas insuficiente. Pois não basta que humanamente sejamos bons e actuemos bem. É também necessário que nos revistamos das virtudes divinas que a todos Deus concede – fé, esperança e caridade – para o bem de cada tempo.

Se, frequentemente, o mundo anda tão mal, muito é também pelo tanto de nos apoiarmos em palitos, e quase nada nas colunas divinas – as virtudes teologais. Terão já pensado os pais das famílias e os das nações, que os filhos devem ser educados e encaminhados para além dos limites da história? Quantos pais, afinal, ensinam aos filhos que não fomos criados apenas para a competição terrena, mas também para a peregrinação de esperança que nos faz subir ao céu?

Calo-me e fico-me a mirar o Carpinteiro de Nazaré, com o filho ao colo, concluindo a reza do Salmo 131: «Ponha Israel a sua esperança no Senhor, desde agora e para sempre!».

Frei João Costa