Derrubar as imagens de uma esperança utópica

A confiança cristã deve encontrar forças para derrubar as imagens de uma esperança utópica, não para se resignar perante a realidade, mas em função da verdadeira miséria do mundo e do futuro de Deus. […]. Junto com o “princípio esperança”, ela não se conformará com a realidade dada, com suas supostas obrigatoriedades nem com as leis do mal e da morte. Mas ela tampouco se contentará com as projeções utópicas do futuro, mas ultrapassará também a estas. Ela as ultrapassará, não rumo à vacuidade do espaço aberto, mas na direção de onde a promessa de Deus lhe indica o caminho para a miséria da criatura. Dessa forma, ela rompe os horizontes utopicamente fechados. Nos horizontes utopicamente abertos a todas as possibilidades, ela reconhecerá e mostrará o necessário. Dessa forma, a esperança escatológica se torna a força impulsionadora da história para a criação das utopias do amor ao ser humano sofredor e seu mundo malogrado, ao encontro do futuro desconhecido, mas prometido de Deus. Nesse sentido, a escatologia cristã se pode abrir ao “princípio esperança”, e receber ao mesmo tempo desse princípio o impulso para a projeção de um perfil próprio e mais perfeito.

(Jürgen Moltmann, O princípio da esperança, pp. 452-453)