A esperança dos cristãos nas coisas eternas

1.           1. Irmãos caríssimos, vossa Santidade recorda, segundo o que disse o Apóstolo, que nós fomos salvos pela esperança. Porém a esperança que se vê não é esperança. Com efeito o que alguém vê, como é que ainda o espera? Ora, se nós esperamos o que não vemos, é com paciência que o aguardamos[1]. Com estas palavras o Senhor nosso Deus, a quem se diz no Salmo: Tu és a minha esperança, a minha porção na terra dos vivos[2], estimula-nos a dirigir-vos um sermão admoestador e consolador. Ele, volto a repetir, que é a nossa esperança na terra dos vivos, ordena-nos que vos falemos nesta terra dos mortos, para que vós não olheis para as coisas que se veem, mas sim para as que se não veem. Com efeito, as coisas que se veem são temporais, mas as que se não veem são eternas[3]. Portanto, uma vez que esperamos o que não vemos, também o aguardamos com paciência. Com razão nos é dito no Salmo: Espera no Senhor, sê forte, fortifique-se o teu coração. Espera no Senhor[4]. Na verdade, as promessas do mundo são enganadoras, mas as promessas de Deus nunca enganam. É que aquilo que o mundo promete, vê-se que Ele o há de dar aqui, ou seja, nesta terra dos mortos onde agora estamos. Porém aquilo que Deus promete, vai ser-nos dado na terra dos vivos. Muitos cansam-se de esperar o verdadeiro e não se envergonham de amar o falacioso. Acerca destes a Escritura diz: Ai daqueles que perderam a paciência e se transviaram nos maus caminhos[5]. Mesmo assim os filhos da morte eterna, vangloriando-se das suas alegrias temporais, que por um momento lhes dulcificam as goelas, mas que depois descobrem que são mais amargas que o fel, não cessam de insultar os que são fortes e esperam em Deus com o coração fortalecido. Com efeito estes dizem-nos: “Onde está o que vos é prometido depois desta vida? Quem é que já voltou de lá até aqui e confirmou que são verdadeiras as coisas em que vós acreditais? Eis que nós nos alegramos na saciedade dos nossos prazeres, porque esperamos aquilo que vemos. Vós, porém, martirizais-vos com o afã da continência, acreditando no que não vedes”. A seguir ajuntam o que o Apóstolo lembrou: Comamos e bebamos que amanhã morreremos[6]. Mas vede como o mesmo Apóstolo alertou para aquilo que deve ser evitado: As más companhias corrompem os bons costumes. Sede sóbrios, como convém, e não pequeis[7].

Santo Agostinho, Sermão 157,1


[1]             Rm 8, 24-25.

[2]             Sl 141, 6.

[3]             Cf. 2, Cor 4, 18.

[4]             Sl 26, 14.

[5]             Sir 2, 16.

[6]             1Cor 15, 32.

[7]             1Cor 15, 33-34.