Teresa de Lisieux e o desafio da Esperança

MANUEL REIS

A 17 de maio de 2025, a Igreja e o Carmelo celebraram o primeiro centenário da canonização de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face (1873-1897), ocorrida a 17 de maio de 1925, na basílica de São Pedro, em Roma. O Papa Pio XI, na sua homilia, apresentou a nova Santa a todos como «boa nova» para cada um de nós: «Este caminho da infância espiritual… revelou-o a todos com os seus escritos, que se divulgaram por toda a terra, e ninguém os leu certamente sem se sentir encantado e sem os ler e reler com muito prazer e fruto».

«Os homens têm hoje particularmente necessidade de uma luz que os guie», e Teresa, «a maior santa dos tempos modernos» (Pio X), uma «Palavra de Deus para o nosso tempo» (Pio XI), «pode traçar aos outros um caminho certo de salvação».

Neste desafio, enquadrado no Ano Jubilar de Esperança, proponho-me reler brevemente a vida e a obra de Santa Teresinha na perspectiva da esperança cristã. A actualidade da esperança teologal de Teresa desafia-nos no nosso caminho de fé, esperança e caridade.

«Nunca deixei um instante de esperar» (Ct 38 B». «Quanto mais avança o tempo, mais eu espero» (Ct 39). «O que me fazia viver era a esperança de ser um dia carmelita» (A 29 v). «Deus, assim o espero, dar-me-á os meios para lhe ser fiel» (Ct 41). «Espero que Deus escute a minha oração» (Ct 61). «Espero n’Aquele que é a Virtude, a própria Santidade. Só Ele, contentando-se com os meus fracos esforços me elevará até Ele e, cobrindo-me dos seus méritos infinitos, me fará Santa» (A 32 r). «Certamente que Deus não defraudará uma esperança tão cheia de humildade» (A 78 v). «O que lhe agrada… é a esperança cega que tenho na sua misericórdia» (Ct 197). «Os meus desejos, as minhas esperanças que tocam o infinito» (B 2 v). «A minha loucura é esperar que o teu Amor me aceite como vítima» (B 5 v). «Quero, ó meu Deus, fundar a minha esperança só em Vós» (Or 20). «Ó meu Deus, fostes além da minha esperança» (C 3 r). «A esperança de ir para o Céu inundava-me de alegria» (C 5 r). «Morrer de amor, eis a minha esperança» (P 17, 15). «Todas as minhas esperanças se realizaram» (UC 31. 8. 9). «As minhas esperanças foram largamente ultrapassadas» (Ct 255). «Todas as minhas esperanças serão realizadas» (Ct 230).

Realço o testemunho da sua esperança de ir para o Céu (C 5 r); a sua prova/noite de esperança, que é, ao mesmo tempo, a sua vitória sobre a tentação contra a esperança (C 6v); a sua esperança fraterna de esperar pelos irmãos que não esperam, ou mesmo, pecam contra a esperança (C 7 r), tornando-se a «santa dos que, no seu tempo histórico, não esperam» e, mesmo dos «desesperados», intercedendo, com a sua esperança teologal, por todos, tal como Cristo, nossa esperança, derramou o seu Sangue por nós e por todos, para remissão dos pecados. Relembro a sua esperança activa pelos familiares e pelos que estão longe nas missões; a memória da esperança de todos os Santos que, com a sua oração, que abrasa com fogo de amor, levantaram o mundo (C 36 v).

Teresa, com o testemunho da sua esperança e confiança no Amor Misericordioso de Jesus – «Ó Coração de Jesus, tesouro de ternura / Tu és a minha dita, a minha única esperança» (P 23, 6) –, com a sua história de vida e o seu martírio de amor – «Morrer de amor, eis a minha esperança» (P 17, 17) –, inspira aos maiores pecadores a confiança na misericórdia do Senhor (C 36 v). É um «livro aberto de esperança», de confiança na misericórdia de Deus para os santos e pecadores, destinados a um «fim feliz» de «união com Deus» (GS 20), uma vez que o próprio da esperança cristã é a salvação para todos e para tudo (GS 92). A «Padroeira das Missões» é uma «palavra de esperança» – da «esperança do Evangelho» – a um mundo que precisa de ser «evangelizado na esperança» da vida eterna.

Jesus esperava-a no Carmelo (A 62v). Maria – «minha única esperança» (P 11, 2) –, conduziu-a ao lugar onde foi «colmada a sua esperança», a sua vocação ao Amor (P 32, 6). «Deus chama amando, e nós, agradecidos, respondemos amando. Santa Teresa do Menino Jesus, quando “viu” com clareza esta realidade, exclamou: «Encontrei finalmente a minha vocação! A minha vocação é o amor!» (Papa Francisco). O amor é a luz da sua esperança: «no Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor» –, e a força que realiza todas as suas esperanças: «assim serei tudo… assim o meu sonho será realizado» (B 3 v).

«Quando escolhemos a esperança de Jesus, aos poucos descobrimos que o modo vencedor de viver é o da semente, do amor humilde. Quem assim viver… torna-se semente de esperança para o mundo… Isto é amor e esperança juntos: servir e doar (…) O amor é o motor que impele a nossa esperança. Repito: o amor é o motor que impele a nossa esperança. E cada um de nós pode perguntar-se: «Amo? Aprendi a amar? Aprendo todos os dias a amar mais?», porque o amor é o motor que impele a nossa esperança» (Papa Francisco). A nossa Santa confirma-o: «O que me atrai para a Pátria dos Céus, é o apelo do Senhor, é a esperança de enfim amar como tanto desejei e o pensamento de que poderei fazê-lo amar por uma multidão de almas que o bendirão eternamente» (Ct 254).

«A bem-aventurada Virgem Maria… proporciona ao homem contemporâneo uma visão serena e uma palavra tranquilizante: a da vitória da esperança sobre a angústia… da vida sobre a morte» (Paulo VI). Teresa cantou a vitória da esperança e do amor sobre a morte: «Vós que colmais a minha esperança» (P 11, 2). «Em breve no Céu formoso eu irei ver-te… Vem sorrir-me de novo… Mãe… chegou a tarde!» (P 54, 25). Peçamos a Maria o que Teresa suplicava a Joana d’Arc: «Nossa Esperança / repousa em vós… Rogai, rogai por nós» (P 4, 13). «O novo Jubileu é uma mensagem de esperança para a humanidade… Santa Mãe! Obrigado porque ainda, neste tempo pobre de esperança, nos dás Jesus, nossa Esperança. Obrigado, Mãe» (Papa Francisco).

Jesus Cristo é a Passagem
Para um mundo de esperança:
Com Jesus ressuscitado,
Em vós nasce o homem novo.