Joaquim Teixeira
O ser humano precisa de razões para a esperança, caso contrário definha, adoece tolhido por medos e angústias. São muitas e diversificadas as fontes de esperança onde cada um de nós pode beber: uns têm esperança se tiverem uma situação económica confortável, outros se tiverem condições de trabalho dignas, outros se tiverem relações de proximidade fortes e robustas, outros ainda se encontrarem razões mais existenciais geradoras de sentidos que conjuguem e harmonizem todas as razões anteriores, sejam eles de teor mais material, relacional, filosófico ou espiritual.
Uma pessoa é marcada pela esperança quando vive com entusiasmo o presente, sonha e projeta o futuro. A esperança desvanece-se quando alguém não se consegue libertar das feridas do passado e se fica a lamentar delas, ou então, quando não atinge um nível de bem estar indispensável no presente e nem sabe por onde começar a solucionar os problemas que se colocam diante dos olhos em catadupa, originários da falta de saúde, alimentação, habitação, educação, sentido… ou seja quando lhe faltam as condições essenciais para uma existência digna.
A Igreja está a celebrar um ano jubilar sob o signo da esperança, tomando como lema a convicção de S. Paulo: «a esperança não engana» (Rm 5, 5). Que esperança é esta que nunca engana? É a esperança que está alicerçada na Fonte das fontes de esperança: Deus que em Jesus nos deu tantas pistas para recuperarmos a esperança que motiva o nosso ser e agir cristão. Esta esperança fundante encontra noutros patamares razões para a esperança. Além das razões que se prendem com a satisfação das necessidades básicas de todo o ser humano, há uma condição também básica que oferece razões para a esperança: a realidade família!
A família, tenha os contornos que tiver, é aquele espaço securizante de que todos necessitamos, é aquele lar, aquela casa, aquele refúgio para onde voltamos instintivamente para renovarmos o nosso sentido de pertença, os laços afetivos, o suporte de que todos necessitamos para nos lançarmos nas aventuras que a vida constantemente nos abre. Num tempo de tantas instabilidades, precisamos de reforçar o pilar da família para que continue a ser aquilo que mais nenhuma instituição ou organização nos pode dar. O nosso tempo também é marcado pela mobilidade, pelas viagens turísticas, pelos fluxos migratórios, voluntários ou forçados… e nesta mobilidade tantas vezes as famílias, os casais se se separam por longos períodos, com consequências dolorosas para todos os seus membros. Interpretando os sentidos de tantos «órfãos» de família, ainda que temporários, canta Pedro Abrunhosa: «quero voltar para os braços da minha mãe». Onde há mães e pais, onde há família para receber, sentar à mesa, escutar e dialogar, reconfortar e sanar, há sempre esperança porque se renovam as forças e a confiança para partir de novo para os desafios que a vida sempre nos lança. A esperança cresce a partir destes pontos firmes, desta constelação afetiva sólida que a família sabe dar a cada um dos seus membros, sobretudo às crianças e idosos. Alimentam a esperança as nossas boas memórias familiares.
Quando revisitamos um álbum de família reavivamos memórias de pessoas, relações, experiências… e são estas memórias do passado que nos dão pontos firmes para o presente e para o futuro. Mas o revisitar das memórias também pode levar-nos a dar voltas a experiências que nos retêm no passado e fragilizam a esperança, pois a nossa memória armazena o bom e o menos bom. A família e cada um dos seus membros são saudáveis e abertos ao futuro quando não se deixam enredar em memórias negativas do passado. A leitura de um bom livro, a visita de uma exposição, um passeio ao ar livre, pela montanha ou à beira-mar, um momento de oração ou de silêncio, numa igreja ou no recolhimento do lar… são algumas das opções tão simples e tão ao nosso alcance que nos permitem libertarmo-nos das memórias pesadas e enredadas do passado e centrar-nos no presente, abertos ao futuro. E tudo isto é cultivar a esperança. A esperança é um valor do domínio do gratuito, do poético, uma virtude que influencia toda a nossa vida e todas as relações de referência, na família, nos amigos. Realmente a «esperança não engana», é o maior dom e o maior investimento que podemos fazer para dar novos horizontes à família e a todos os seus membros.
Fonte: https://claustro.carmelitas.pt/2025/07/a-familia-entre-a-memoria-e-a-esperanca/


