Um estrado para subir

Queridos amigos, nós também somos assim: fomos feitos para isto. Não para uma vida onde tudo é óbvio e parado, mas para uma existência que se renova constantemente no dom, no amor. E assim aspiramos continuamente a um “algo mais” que nenhuma realidade criada nos pode dar. Sentimos uma sede tão grande e ardente que nenhuma bebida deste mundo pode saciar. Diante dela, não enganemos o nosso coração, tentando extinguí-la com subterfúgios ineficazes! Antes, ouçamo-la! Façamos dela um estrado para subir e espreitar na ponta dos pés, como crianças, pela janela do encontro com Deus. Encontrar-nos-emos diante d’Ele, que nos espera, ou melhor, que bate gentilmente ao vidro da nossa alma (cf. Ap 3, 20). E, mesmo aos vinte anos, é bom abrir-lhe o coração, deixá-lo entrar, para depois nos aventurarmos com Ele rumo aos espaços eternos do infinito.

Santo Agostinho, falando da sua intensa busca por Deus, perguntava-se: «Qual é, então, o objeto da nossa esperança […]? É a terra? Não. Algo que deriva da terra, como o ouro, a prata, as árvores, a messe, a água […]? Estas coisas agradam, são belas, são boas» (Sermo 313/F, 3). E concluía: «Procura quem as fez. Ele é a tua esperança» (ibid.). Em seguida, pensando no caminho que tinha percorrido, rezava dizendo: «Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! […] Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei (cf. Sl 33, 9; 1 Pe 2, 3), e agora tenho fome e sede de ti (cf. Mt 5, 6; 1 Cor 4, 11). Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz» (Confissões, 10, 27). Leão XIV – Homilia na Missa do Jubileu dos jovens (3 de agosto)