Jubileu e esperança

Armindo Vaz, OCD

Sem casa… e a esperança?
A crise de habitação no país – e fora do país – protesta e grita com franqueza desembainhada pela necessidade de uma casa onde assentar a própria dignidade: não se pode ‘consistir’ e coexistir sem casa! Até os migrantes que saíram de casa precisam de casa onde trabalhar de dia e descansar de noite. A casa ajuda a construir a família. Na vida, dificilmente haverá família onde não houver casa. As grandes apostas da vida envolvem sempre por algum lado casa própria e família própria. Ter casa própria é uma condição fundamental para cumprir o grande objectivo da vida que é viver mesmo e não sobreviver. A casa ampara o crescimento das pessoas, embala os afectos, afaga os sentimentos, estreita e aprofunda as relações humanas, aconchegando-as com o comer juntos à mesma mesa e com o dormir debaixo do mesmo texto. A morada é o espaço onde cresce o bem, onde a pessoa se encontra bem, onde o amor se entranha, onde a zanga se dilui, onde mais facilmente se faz o exercício da compreensão, da reconciliação e da harmonia. Ter casa é dar lugar à vida, evitando ser errante. A casa ajuda a construir tradição e a guardar memória, que dão ‘consistência’ ao viver. Que memória conservam os que vivem numa barraca como solução de habitação?
Na crise existencial de habitação, a casa conseguida pelas pessoas sabe a esperança: fá-las sentir que a vida não só tem um porquê mas também um onde e um como. Fá-las pensar com fé que estão a caminhar ao encontro de Alguém que as espera e as receberá na casa paterna e materna. Como o melhor conforto para o faminto seria ter um naco de pão, assim a melhor celebração do jubileu da esperança para o grupo dos sem-abrigo seria terem casa. Também com eles se identificou Jesus: «era estrangeiro e acolhestes-me» (Mt 25,35.43).